As olimpíadas da diversidade

Por  Manoela Gonçalves

Mulheres negras, lésbicas, pobres, de todos os biótipos, as mesmas que são vítimas de violência e discriminação em nosso País, foram muito bem representadas pelas atletas brasileiras nas Olimpíadas de Paris.

O Brasil saiu vitorioso em razão dos resultados alcançados, principalmente pelo fato de que as nossas atletas se entregaram de corpo e alma nas disputas. Parabéns a todas e a todos os que se dedicaram e se prepararam para as disputas na França.

Todos são vencedores, mesmo aqueles que não puderam subir os degraus do pódio.

O protagonismo feminino levou o Brasil a obter 20 medalhas – 12 delas foram conquistadas por mulheres e por todos os 3 ouros da delegação brasileira que, de forma inédita, foi composta, em sua maioria, por mulheres, em uma afirmação da capacidade das mulheres em superar obstáculos.

A campanha esportiva das mulheres em Paris é o retrato mais evidente da luta feminista no Brasil. Nós temos que fazer malabarismos, como as ginastas olímpicas, para enfrentar o machismo; lutar com força, tal como as atletas do judô, para enfrentar as barreiras que nos são impostas no mercado de trabalho, e ter a dedicação e perseverança das atletas do vôlei de praia para vencer o preconceito.

Subir ao pódio da vida, vencer a violência doméstica, os assédios sexual e moral são verdadeiras competições que enfrentamos em nosso dia a dia e que, graças a um trabalho árduo junto aos poderes constituídos, temos conquistado vários avanços.

A defesa da mulher é uma verdadeira batalha, que tem sido travada cotidianamente e que, ainda não conseguimos alcançar em sua plenitude. O número de feminicídios é alto, as denúncias de abusos e assédios são crescentes, mesmo com a evolução legislativa que conseguimos alcançar nos últimos anos.

Uma das principais lições das Olimpíadas de Paris é a de que a dedicação, combinada com incentivo e esforço, possibilita a obtenção de resultados surpreendentes.

Que o novo ciclo que se inicia a partir de agora, visando os jogos olímpicos de 2028 em Los Angeles, nos Estados Unidos da América, seja exitoso para o Brasil, com investimentos em qualificação de profissionais para atuar com os atletas e, principalmente, no preparo de novos talentos que vão surgir.

O Brasil da população pobre e as mulheres não podem ficar esquecidos, como ocorreu nos últimos ciclos olímpicos, mas devem ser incentivados e preparados para novamente brilharem e trazerem mais medalhas para o nosso País. Há de ocorrer investimentos financeiros na preparação, construção de ginásios esportivos e qualificação.

Assim como a evolução das leis e a criação de mecanismos de defesa das mulheres precisam ser aprimorados.

O caminho para alcançarmos a equidade de gêneros é longo e, por este motivo, a luta por políticas públicas que garantam o acesso das mulheres ao mercado de trabalho, às oportunidades de crescimento profissional e pessoal, bem como no esporte, deve ser incansável.

 

Manoela Gonçalves é jurista e presidente da Federação Internacional de Mulheres de Carreira Jurídica e da Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica